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Língua do Brics: esperanto ou russinportinmandarim?

19/07/2014 21:12

Sob o título “Brasil e China firmam acordos sobre intercâmbio acadêmico”, o portal do MEC informou anteontem (17/7/14) que o governo brasileiro incentivará o ensino de mandarim nas universidades, inclusive instalando mais unidades do Instituto Confúcio (do governo chinês) nas federais. A matéria não informa quantas unidades do Instituto Machado de Assis serão instaladas nas universidades da China – provavelmente, nenhuma.

Ao que tudo indica, portanto, mais uma vez a reciprocidade entre Brasil e superpotências “parceiras”, pelo menos no quesito idiomas, será inexistente: sempre o Brasil promove as línguas delas; nunca elas promovem a língua do Brasil. Para os EUA/Inglaterra, por exemplo, o governo escancarou há décadas o mercado do ensino do inglês – e obriga o povo a consumir, via sistema educacional etc. –, mas nenhum anglófono se obriga a estudar português. Para a China, agora, o governo promove o chinês (afora o que já fez pelo francês, pelo espanhol, entre outros). O que o português ganha em troca, ele que sempre foi rejeitado como língua oficial da ONU? Desprestígio?

Incrivelmente, aos olhos da “grande imprensa” (como aos do governo) tem passado despercebido o fato de que esse “pequeno detalhe” da falta de reciprocidade implica grande ônus para os brasileiros, e grande bônus para esses estrangeiros. Grandes são as perspectivas de lucro e de expansão (para eles), e enorme o gasto de energia, tempo e dinheiro (para nós), que endossamos nossa flagrante desvantagem. Displicentemente, como o governo, a imprensa noticiou esse acordo como se tudo estivesse muito correto e como se fosse essa mesma a ordem "natural" das coisas: cabe a milhões de estudantes brasileiros o dever de aprender as línguas das superpotências (“devemos até nos orgulhar disso!”), e, sem reciprocidade (porque “nossa língua não tem valor de mercado”), e, sem discussão (pois “não há alternativa”).

Será que não há mesmo? Será que a única alternativa de um país que não dispõe de poder econômico-político-militar para infiltrar sua língua é disponibilizar o seu povo para o mercado das línguas das superpotências?

Em carta aberta de 2013, com base em duas resoluções da Unesco que recomendam o esperanto (assinadas, inclusive, pelo Brasil), esperantistas brasileiros pediram à presidente Dilma que inicie no país o processo de adoção da Língua Internacional neutra. O governo ainda não se dignou a dar uma resposta. Pedidos semelhantes vêm sendo feitos por esperantistas estrangeiros, com frequência cada vez maior, a outros governos – inclusive ao chinês, que curiosamente tem respondido com significativas ações em prol do esperanto. Convenhamos: num mundo em que o estrelato de meia dúzia de línguas se impõe sobre o ostracismo de mais de 5.000 línguas (entenda-se povos), não cabe a países como o Brasil promover, muito menos financiar, esse estrelato, essa hegemonia, em detrimento da própria língua pátria. 

Será que não está na hora de o Brasil abrir o jogo perante seus parceiros e propor o início do processo de inclusão do esperanto como língua de trabalho nos organismos internacionais, na ONU, no G20, no Brics? Ou preferimos nos submeter a sempre aderir à língua estrangeira da vez, no sobe-desce histórico cada vez mais veloz das superpotências? Se ninguém vai se dispor a dar ao português lá fora o tratamento que o Brasil tem dado a algumas línguas estrangeiras aqui, por que não ousamos encabeçar junto a tais organismos a campanha pela língua neutra internacional? Por que não ousamos começar dando o bom exemplo de produzir meios de introduzi-la no nosso sistema de ensino?

No que se refere ao Brics (cujas 5 línguas mais importantes são o mandarim, o indi, o inglês, o português e o russo – o "russinportinmandarim" do título), a adoção de uma só língua em comum, neutra, já representaria uma grande economia para todos, além de uma demonstração de inovação e de parceria verdadeira e equânime, apontando para um modelo realmente novo de bloco de nações. Bem que o Brasil poderia ter a coragem de sair da "retaguarda linguística" e propor esse novo modelo. Em breve, os cidadãos dos 5 povos (quase metade da população mundial) teriam muito a ganhar, estudando apenas mais 1 língua (e não mais 4, no mínimo), para poder se comunicar eficazmente entre si, e em pé de igualdade – o que é justo.